Portfólio digital na prática docente

… aprender, para nós e para os alunos, não significa simplesmente organizar informações, mas selecioná-las, organizá-las e interpretá-las em função de um sentido que lhes atribui, decorrente de nossa biografia afetiva-cognitiva. (L. R. Almeida)

Essa afirmação vai de encontro com os paradigmas educacionais que estamos enfrentando em uma sociedade que tem acesso a informação na ponta dos dedos. Fazendo um paralelo com a evolução da internet, na WEB 1.0 os usuários eram apenas espectadores que poderiam apenas ter acesso de forma passiva as informações, ou seja, o conteúdo da internet era apenas uma uma forma eletrônica de distribuição de conteúdo, essa evoluiu para a possibilidade de os usuários comentarem sobre os assuntos e interagir com os autores através de linhas de comentários inseridas nas páginas das matérias. Na WEB 2.0 os usuários passaram de simples expectadores para autores de conteúdo, onde um Blogs ou redes sociais é possível a publicação de conteúdos textuais, fotos, vídeos e qualquer tipo de conteúdo que possa ser compartilhada, pois em algum lugar do planeta vai existir um outro usuário que se interesse pelo mesmo assunto e queira discutir ou opinar sobre. Aproximando essa evolução do mundo escolar, os alunos sempre foram tratados como meros espectadores onde, segundo Paulo Freire exemplifica, os professores depositam conteúdo e sacam esse conteúdo em uma avaliação. Se fora do ambiente escolar existe essa possibilidade de interação, criação de conteúdo, compartilhamento de ideias, porque não transportar essa mecânica para dentro.

Coloco nessa mesma comparação o professor, que em um momento era apenas o detentor e transmissor do conteúdo, que na sala de aula do modelo industrial, havia apenas a relação unilateral de 1 para N, onde a interação do professor para os alunos era guiada por umlivro didático tendo o professor como o orador deste guia.

Voltando a citação inicial do texto, especificamente a parte “mas selecioná-las, organizá-las e interpretá-las”, vejo nessa a possibilidade e resposta à necessidade atual de mudança de paradigma da educação, essa colocação vai de encontro às novas metodologias de ensino, por exemplo a sala de aula invertida, onde o aluno fica responsável por adquirir o conhecimento sobre o assunto solicitado pelo professor, e como papel de organizador das fontes de conhecimento, o uso de um portfólio digital desenvolvido pelo professor, que passa a ser um curador de conteúdos, servirá como a fonte de conhecimento onde os alunos irão buscá-lo, tornando assim uma fonte confiável de consulta e também um local de interação atemporal entre professor e alunos, e alunos alunos, e por estarmos vivendo na era da informação, onde também há muita informação errada e incompleta de fontes não confiáveis, esse seria um local seguro para os alunos partirem um busca do conhecimento confiável.

Quando pensamos no papel de um professor que apenas transmite o conhecimento que está sedimentado nos livros didáticos, o uso de uma ferramenta como um blog permite que esse professor também crie seu próprio conteúdo, que passe a ser um pesquisador e os frutos da sua pesquisa estarão disponíveis não só para os alunos mas também para outros professores e interessados no assunto. Tirar o professor de um papel que de certa forma também é passivo, e colocá-lo no papel de protagonista das informações pode fazer com que esse se aproxime ainda mais da realidade em que os alunos estão inseridos, além de que o professor e os alunos estarão mais próximos das atualizações acerca de algum tema, uma vez que os meios digitais, diferente dos meios impressos possibilitam a edição de conteúdo a qualquer momento.

Quando falamos de meios avaliativos, sabemos que avaliar todos os alunos de uma mesma forma não é um método eficaz, quando ao invés de o professor avaliar friamente as resposta de um aluno em uma avaliação, fazendo uso de ferramentas como blogs, os comentários dos alunos e sua participação podem ajudar o professor a não só avaliar os alunos, como também abrir uma linha de discussão que ao  invés de apenas avaliar o professor pode ajudar o aluno em questão a sanar suas dúvidas e aprofundar sua pesquisa, ao chegar neste ponto esbarramos em um novo paradigma da educação, a personalização do ensino, aproximar os alunos e professores, sem as barreiras da sala de aula pode fazer com que o professor possa auxiliar os alunos que tenham alguma dificuldade a achar um outro caminho.

Já temos as ferramentas e os conteúdos, precisamos agora achar formas de unir essas 2 peças e prepararmos os tutores a utilizá las da melhor  forma possível.

Mobile Learning, ponto de partida

Com base no artigo “APRENDIZAGEM, MOBILIDADE E CONVERGÊNCIA:” (Link:https://anhembi.blackboard.com/bbcswebdav/pid-5874699-dt-content-rid-22008827_1/courses/201722.00189.01/Artigo_Aprendizagem%2C%20Mobilidade%20e%20Converg%C3%AAncia.pdf) fica claro que existem duas linhas de opiniões sobre o que o uso de celulares e tecnologias móveis representam na educação, em alguns casos o celular é a bala de prata para os problemas atuais e o outro ponto que mais me agrada é o que para mim se resume na citação “As tecnologias por si só não resolvem.” Müller e Pereira (2011), digo isso pois um celular ou dispositivo móvel por si só são apenas objetos inanimados, assim como um machado sem cabo ou um carro sem motor, as possibilidade que esses dispositivos podem oferecer para os estudantes é que os difere, pois possibilitam o rompimento das barreiras de tempo e espaço, além de hoje existirem diversos aplicativos que agregam valor ao ato de estudar.

Estamos vivendo em um mundo onde o conhecimento está disponível de forma on-line e gratuita, a graças aos celulares e redes móveis, ao alcance dos dedos em qualquer hora e lugar, claro que deixando os problemas de acesso de lado, o importante é saber que as informações não está mais restritas às salas de aulas, escolas e bibliotecas, na internet é possível ter acesso a informações sobre qualquer assunto e área do conhecimento, basta digitar o que se busca no Google que ele te responderá com infinitas páginas de links para sites do assunto pesquisado, além de uma enorme oferta de vídeo aulas e fóruns de discussão, e uma citação me chama a atenção, Dutra e Comini (2010, p.102).

“Observa-se, também, que a volatilidade do conhecimento e da informação se acentuou na primeira década dos anos 2000, devendo-se acentuar cada vez mais no futuro. As pessoas se sentem desorientadas com esta volatilidade, sem saber como pensar seu desenvolvimento e como filtrar a enorme quantidade de conhecimentos e informações ao seu dispor.”

Nesse novo mundo onde o professor não é mais o detentor do conteúdo os alunos ganham autonomia para trilhar o seu próprio caminho em busca das informações e a principal vantagem dos celulares nesse momento é o fato de a grande maioria dos estudantes ter seu aparelho e estarem com ele a postos para realizar buscas dos assuntos quando esse se faz necessário. Pensando em métodos de sala de aula invertida, onde o professor demanda um tema e o aluno fica responsável por absorver o conteúdo previamente, o celular entra como um grande aliado nesse processo, sendo o facilitador de acesso ao conteúdo sem a necessidade de um computador ou um livro, além de os celulares atuais terem ferramentas que dispensam o uso de computadores e tablets para realizar anotações ou edição de textos, o celular agrega todas essas funções e em muitos casos sem a necessidade de instalação de novos aplicativos.

O fato de os celulares serem de uso pessoal e dispositivos dotados de um sistema operacional altamente personalizável, o tornam tão importantes quando se fala em educação, pois possibilita a personalização nos meios de aprendizagem que o aluno não pode obter em laboratórios de informática ou mesmo na sala de aula, em um dispositivo portátil o aluno pode escolher a melhor hora e local para assistir a uma aula, ler um texto ou usar aplicativos de simulação ou atividades para treinar os seus conhecimentos e obter feedback imediatos sobre suas atividades.

O fator portabilidade também é um dos atributos que tornam o celular uma ferramenta indispensável quando se fala em acesso a conteúdos pois possibilita que independente de barreiras físicas ou temporais o aluno tenha acesso ao conteúdo que ele necessita, e também possibilita um canal de comunicação direta com colegas de classe e professores para que esses possam interagir sem estarem presentes no mesmo local e compartilhar conteúdos e conhecimentos.

O projeto BridgeIT, presente na américa Latina e Asía é um bom exemplo da utilização de tecnologias móveis como fator de mudança na educação, os celulares são utilizados como extensão das salas de aula, levando conteúdos atualizados a escolas geograficamente isoladas. (UNESCO Policy Guidelines for Mobile Learning, 2013).

Para que as novas tecnologias sejam inseridas no cotidiano escolar e passem a fazer parte da rotina de aprendizagem é preciso ter atenção ao fator de conhecimento dessas tecnologias, os nascidos na era digital possuem uma melhor sintonia e adaptação a utilização dessas no processo de aprendizagem, em contrapartida os professores mais experientes não possuem esse mesmo conhecimento e familiaridade com os meios digitais, sendo assim o melhor caminho para a correta inserção de novas tecnologias no processo pedagógico o professor precisa ser orientado quanto ao uso dessas ferramentas, pois em uma sala de aula, em um ambiente que os alunos possuem maior conhecimento de utilização de determinada ferramenta o professor se sentirá pouco a vontade em fazer parte pois se sentirá menos preparado que os alunos. Um bom exemplo de situação, onde os alunos se mostram melhor preparados diante de um professor sem preparo para efrentar os desafios da sala de aula pode ser visto no trecho do filme “Sorriso de Monalisa”, (Link: https://www.youtube.com/watch?v=fXE2ApcTFTw).

Em conclusão, as tecnologias móveis e os alunos já estão preparados para essa mudança de paradigma, basta apenas que os professores sejam devidamente paramentados e  além de treinamento e formação adequada possam fazer parte do planejamento pedagógico que passará por mudanças em relação a inserção dessas novas ferramentas no processo de aprendizagem.
Referências

  1. https://www.edools.com/sala-de-aula-invertida/
  2. https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/enfermagem/a-era-do-conhecimento-e-seus-novos-desafios/59861#_ftn2
  3. https://www.administradores.com.br/noticias/academico/o-aluno-como-protagonista-a-importancia-da-personalizacao-na-educacao-superior-do-seculo-xxi/117388/